"Avatar" ( publicado em dezembro último)


"Avatar", por enquanto foi meu programa "ciber" de férias. Interessantíssimo. Tudo no lugar: muitos efeitos, direção de arte perfeita, fotografia idem, muitos cenários, som bem trabalhado, computação gráfica aos montes ( será que nestas produções ainda usam chroma?) e a animação que não me deixou achar que fosse. James Cameron arrebentou literalmente escrevendo, dirigindo e montando. Mas um filme como aquele não dá pro diretor largar o osso senão não conta o que pensou. Mas tudo aquilo me remetia a algum lugar no passado
Sessão iniciada e os trailers em 3D já impactavam. Eram de filmes de animação e assustei-me com objetos que pareciam vir em minha direção. Sala de cinema é incomparável. Olhar para trás e ver a platéia toda de óculos iguais e pretos olhando para um mesmo ponto deu a sensação que eu tinha chegado ao futuro. Foi incrível ver o futuro em 3D.Mergulhei no filme por 3 horas.
No início sentia tonteira e algum desconforto, mas a sensação de que eu estava com o olho no visor da câmera, imersa naquele “estúdio” era de fazer arrepiar e ai eu queria era fotografar o que eu estava vendo para guardar e distribuir democraticamente aquela imagem aos amigos. Todas estas sensações eram muito infantis e prazerosas. O roteiro trata principalmente do egoísmo e desrespeito do homem pelo homem e como disse minha filha e Renata, minha amiga, parecia uma mistura de vários filmes infantis e situações históricas com uma ficção cheia de Smurfs gigantes. Dia seguinte e fui pesquisar 3D na minha parceira, a Internt.
É fato que 3D não é tão novidade para o cinema e o lançamento de “Avatar” às vezes faz crer que este é o primeiro e único filme até hoje. Não é mesmo. Sebastião Comparato, que veio morar no Brasil quando tinha seis meses de idade, em 1934 apresentou em sessão particular para alguns amigos, entre eles o poeta Guilherme de Almeida, em sua casa em São Paulo, a primeira exibição de filme 3D, patenteando sua obra. Pasmei. Continuei a busca e lá estava: “Comparato criou um sistema no qual a imagem projetada em uma tela era refletida por um espelho. O processo criava a ilusão de que a imagem passava em um espaço vazio, como um palco de teatro.” . Não era necessário o uso de óculos para assistir à sessão. Sensacional.
Em 1952, “Bwana Devil” foi lançado nos EUA como um dos primeiros produtos da novíssima inovação americana para o cinema , o “cinema 3-D”, ignorando a patente brasileira. Para assistir eram necessários os óculos. Foi ai que encontrei a justificativa para minha sensação familiar ao assistir “Avatar”. Eu nasci em 1960 e até os 7 anos meu pai me levou para assistir a todos os filmes livres que chegaram até Manaus. Vi os da Disney ( os melhores até hoje) e mais um monte de outros. Meu pai adorava e acho que ele tinha uns óculos de papel amarelo, com uma lente verde e outra vermelha. Eram de papelão e as lentes me pareciam papel celofane (será?).
Sebastião Comparato, que recusou convite para trabalhar com os americanos por achar importante que a invenção fosse considerada como brasileira, me fez lembrar Santos Dumont. E teria dito: “Nenhum desses sistemas proporciona a humanização das cenas. Com qualquer um deles, o cinema será sempre uma fotografia em profundidade, ao passo que o meu sistema é a transformação completa do cinema como espetáculo para os olhos”.
Achei estranho ter que reutilizar os óculos que recebi ao entrar na sessão ( falei que se alguém tivesse com conjuntivite eu estaria ferrada ...kakakaka) mas de fato ninguém que eu conheço e assistiu “Avatar” tinha um par óculos daquele em casa. Tempo passado e eu posso estar misturando as coisas, mas foi emocionante perceber o quanto a tecnologia avança pelas nossas mãos, a olhos vistos e sentidos apurados. Continuo impressionada com a importância da Cibercultura para as novas sociedades e assistindo ao filme emocionei-me ao ver a “Grande Árvore” sendo destruída, o casal no fundo daquele rio “psicodélico” e as flores extraterrestres. Acho que o paraíso era aquilo.




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