Para meu grupo da faculdade no WhatsApp


Queridos,
Muitos de nós não nos acompanhamos há décadas e o nosso recente grupo me trouxe o ânimo fresco do reencontro. Tenho acompanhado os posicionamentos políticos que aqui são publicados e observado as opiniões dos que gostam de refletir sobre nossa atual situação, como está governado o nosso país, etc. Hoje fiquei motivada a escrever e aqui o faço. Como o impulso me diz que vem muitas palavrinhas por aí, resolvi escrever fora do aplicativo. Tenho minhas convicções construídas ao longo da minha existência e  precisarei fazer um relato de como vejo as movimentações políticas desde que fui militante estudantil. Agradeço o contraditório e as atualizações, revisões e todas as críticas que possam surgir a partir desse relato  que farei.

Ismar tem razão quando diz que precisamos de uma esquerda unida e forte e Edevigens também, quando diz que as esquerdas só se uniram no Brasil pelas Diretas Já. Esse é o exercício da democracia. As esquerdas tem pautas em comum mas são “as” e não “a” esquerda. Ao que parece, ao longo da nossa história estamos aprimorando essa ideia a passando a respeitar, mesmo que aos trancos, que os matizes da esquerda são diferentes,  que têm em comum a militância contra o capital, porém as pautas e suas origens muitas vezes são díspares no pesamento e na prática. Parece que andamos um pouco esquecidos disso por um pouco mais de uma década. Não pode existir uma  única esquerda. A esquerda pode se unir em momentos que a luta pede mas as autonomias devem e precisam ser respeitadas. O PT em si, desde a sua origem sempre foi uma mistura de movimentos de esquerda. Com alguns partidos com vertentes de pensamento próxima à sua proposta inicial partidária, formou sua base para chegada ao poder.

Para vencer a ditadura militar era impositivo que todos que compartilhavam do ideal de liberdade, contra a Ditadura Militar estivessem no mesmo “campo”. A Abertura nos deixou num mesmo partido já que era permitido apenas um partido de cada “lado”. O surgimento do PT durante a ditadura e sua oficialização em 1982,  veio como uma resposta da esquerda que, naquela ocasião, via na luta das classes trabalhadoras (que na década de 80 começavam a viver a grande mudança na configuração do trabalho), as respostas às regras do capital, do liberalismo econômico, à falta das liberdades individuais e aos diretos sociais e políticos, luta que crescia  pelo mundo, como na Polônia, por exemplo e na América Latina que aos poucos ia se libertando das ditaduras militares. No Brasil, foi a nossa resposta contra o fascismo que se instaurou durante 3 décadas e as propostas neoliberais que estavam no seu bom momento nos países de ideologia absolutamente capitalista. Foi duro chegar ao poder. O PT chegou ao poder porque conseguia aglutinar várias esquerdas que acreditavam que era possível governar o país de uma forma revolucionária, acabando a miséria, neutralizando o capitalismo e melhorando as condições de vida de TODA a sua população, uma missão ousadíssima, agora na maturidade percebo.

Já naquele momento, não tínhamos uma única esquerda e, algumas delas ficaram fora deste alinhamento, desde e a volta do pluripartidarismo. Os “mais à esquerda” como eram considerados os que ajudaram na desarticulação do governo militar, na clandestinidade, se dividiram de acordo com suas pautas. Nem todos estavam fechados com a criação do PT. Lembro bem da cordialidade entre Lula e Prestes, mas não lembro dele fazendo parte do quadro partidário do PT. O MR8 foi apoiar a "direita da esquerda" e ficou com o Quércia e o MDB, por exemplo. Os trotskistas e stalinistas, os que seguiam alguma tendência política à esquerda mas não nominadas, assim como os católicos e os que não estavam ligados a nenhuma tendência formaram a principal base política do PT. Os trabalhadores e a população em geral não fizeram efetivamente parte da formação do partido.  Somente os mais politizados. 

Ao levar ao poder o PT, com uma grande maioria da esquerda, a maioria da população que elegeu Lula se acomodou, conforme  manda os ditames da prática do regime de representação, onde elegemos um partido para nos representar e ponto, tá acabado. No Brasil, pior ainda, temos a prática de eleger um cidadão e esquecemos que estamos levando ao poder uma ideologia, um partido e seus apoiadores, no caso os cúmplices, os comparsas ou os algozes. Aquela multidão que elegeu Lula foi se acostumando com a ideia de ter eleito um cara do “partido de esquerda” e esqueceu de observar o que estava sendo feito com seu voto, como os acordos que eram realizados em seu nome. O líder estava no poder e tudo que ele fizesse não poderia senão ser para o bem de todos, acreditavam, dentro da sua inércia politica. A esquerda agora parecia ter se transformado em uma única tendência, sem nenhuma diferença, apesar das disputas continuarem existido, dentro e fora do partido. Para os eleitores, o PT era o único partido  de esquerda e representava uma única ideologia.

Desde o início, ficou claro que as decisões deveriam ser negociadas, tanto com os opositores quanto com a base política de direita que apoiava o partido. O governo chegou fazendo grandes mudanças principalmente com a proposta de eliminar a fome e a miséria no Brasil. Mas esse não era o interesse das elites e da classe burguesa que também elegeu o Lula para presidente mas não levou em conta o PT e seu balaio de gatos. O Lula, o grande gato, fazia questão de comandar os gatinhos e deixá-los invisíveis, digamos assim. A esquerda que não estivesse com o PT não era esquerda. Foi sempre assim que o partido considerou qualquer opositor do mesmo campo. Com o campo da direita, Lula como grande e inteligente negociador, um excelente estadista,  lidava com maestria e todos acabavam se curvando. Desde que não mexesse com o quinhão de cada um. Mas, para tirar o país da pobreza do subdesenvolvimento, disfarçado de "em desenvolvimento", tinha que mexer nos quinhões dos caras que sempre estiveram no poder e jamais abriram mão dos seus "negócios". Mas o projeto de poder do partido era longo e ele tinha certeza que nada, nada neste mundo os tiraria mais de lá. Nem que pra isso ele precisasse esquecer quem o elegeu, mesmo que fosse os tais da "aliança pela governabilidade", que para o Lula, estavam no papo. O papo do mensalão.

Lula chorou na televisão quando o mensalão foi descoberto pelos pobres mortais através da imprensa. Eu chorei junto com ele, apavorada com o fato de que as críticas ao governo petistas eram verdadeiras. E eram. O PT agia da mesma forma que todos no poder. O "Poder" estava satisfeito: enquanto isso Lula aparecia como herói para o mundo. Lula não era vítima, era partícipe, comandante. Mas, só percebia quem sabia e acompanhava de perto, desde menina, o porque da política e o que ela tem a ver com a fome e a miséria. O eleitor comum, esquecido da sua missão de fiscalizar o que estão fazendo com seu voto, aplaudia e repetia que tudo tinha um motivo nobre: acabar com a fome e a miséria no país. O Programa Fome Zero, que tinha um arcabouço largo, entendia que para acabar com a fome e a miséria seriam necessários esforços de vários setores, por que além de alimentar os estômagos era necessário nutrir com saúde, educação, moradia e transporte toda a população desassistida e mais aquela que estava no limbo, no limiar entre o invisível e o miserável.  O programa foi substituído oficialmente em 2004 pelo Bolsa Família, uma junção das bolsas do FHC com alguns avanços no cuidado na contrapartida do beneficiário, o que logo se tornou moeda de troca para muitos municípios onde o que imperava era a lei do "mando eu". A verba para o Bolsa Família (que não era mais um projeto revolucionário de erradicação da miséria com a parceria dos próprios envolvidos na construção de um Brasil melhor), passou a ser negociada para ver qual município levava. Passou a ser um cartão com poder de compra. Aos primeiros escândalos de governança do PT, já no governo, a igreja progressista e outros setores independentes se afastaram do PT.  Frei Beto e Leonardo Boff saíram do governo com críticas contundentes à pratica de corrupção que se anunciava e a mudança do plano Fome Zero  para o Bolsa Família. Desde 2004, quando o PT expulsou lideranças significativas, o Psol passou a existir e se fortalecer. O eleitor, no entanto, se mantinha esquecido da prática política necessária de fiscalizar seus representantes. Nunca fez isso.

Assim como o Fome Zero passou a ser o Bolsa Família outras iniciativas que realmente mudariam  o Brasil e foram implementadas logo no início do mandato deixaram de existir com atos do próprio governo, mas ninguém estava muito interessado. Poucos procuraram entender, por exemplo,  porque iniciativas que eram resultado de lutas imensas, como a implantação da TV Digital no Brasil, uma luta enorme de toda a categoria radialistas, cientistas e diversos atores do setor, que visava a melhoria do acesso a informação para TODOS os rincões do Brasil, com programações variadas, porque não foi implantada e gerida como havia sido proposta pelo grupo gestor da sociedade civil e o governo, por decreto e aprovada pelo congresso, em 2003? A pesquisa inicial sobre sistemas digitais para televisão começaram  com o governo japonês,  lá em 1970. Eles pretendiam aquecer o mescado de televisores e isso só seria possível se mudasse toda a cadeia de produção. O Brasil, logo no início do governo PT, em 2003 aprovou a implantação de um sistema híbrido Brasil-Japão após uma intensa mobilização entre a ciência e a tecnologia junto a sociedade civil, com todos seus atores representados. Porém, ao longo do governo, vários decretos foram aprovados retrocedendo o modelo inicial, até chegar às regras impostas pelo marcado  que exigiam apenas uma TV com outro tipo de imagem e que a programação não interferisse nas operadoras concessionárias no Brasil. Esse retrocesso jogou fora todo o esforço investido, deixando na mão das corporações da comunicação, em especial da TV Globo, a implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital, autorizado pelo governo que mudou toda a estrutura das comunicações, negociando a favor das empresas de telecomunicações que, no mundo, também se abriam para a rede de telefonia, as telefônicas. Desde década de 1990, a TV Globo tinha como meta a implantação da TV Digital e a reforma trabalhista. 
À população, restou o lugar que o mundo capitalista impunha: apenas uma mudança de tecnologia nos equipamentos, que renderam bilhões a toda a indústria  da captação à exibição de imagens. A mudança de tecnologia analógica para digital mudou toda a cadeia de produção e não levou até os rincões do Brasil, nem mesmo aos grandes centros, uma televisão com programação variada, com várias janelas, ligadas à educação, esporte, cultura, arte e lazer, além de noticiário com qualidade de imagem e som inigualáveis para uma TV aberta. Hoje, a TV Digital no Brasil nada mais é do que a obrigação de TODOS mudarem de aparelho e alimentar a indústria  capitalista, obrigatoriamente, se quiser assistir pelo modo convencional televisão em casa. Tudo durante os governos PT.

Também, ainda na onda de que "elegemos um governo de esquerda e estava alimentando mais de 30 milhões de pessoas que estavam abaixo da linha de qualquer miserável, começou a invadir a Amazônia para construir hidrelétrica, a desapropriar culturas inteiras e suas etnias, milhares de humanos, loteando, também, as terras, que são de todos, mas apenas eles, os habitantes das florestas conseguem e sabem como viver e cuidar. O CIMI, entre outras entidades de preservação da vida humana e da floresta, não param de fazer o trabalho de acompanhar várias etnias e todas as negociações, denunciando os acordos entre o governo, os políticos e os nativos. Triste de entender por que o partido deu chão para o mercado do agronegócio, com acordos feitos e defendidos no congresso por parlamentares petistas, que nunca nem sequer tiveram a delicadeza de ir até a floresta para entender minimamente do que falavam aquelas populações, milhares, por sinal. Quem elegeu durante mais de uma década o mesmo partido esqueceu que tinha responsabilidade com tudo isso.

O Rio de Janeiro sempre foi  alta moeda de troca do PT. Para ter um candidato para o estado de São Paulo e ter apoio para a candidatura a presidência ele abria mão do candidato no Rio, falando simploriamente.A prefeitura do Rio também entrava na negociação pela tal "governabilidade". No entanto, não abria mão dos cargos e do que eles significavam. Era uma rede bem atada. A imposição vinha como “decisão da nacional” e não do eleitor. No Rio, por diversas vezes  eu vi pela imprensa (eu já não frequentava as manifestações de palanque), de manifestações com mãos dadas à direita mais sórdida.  Cabral chegou onde chegou levado pelo PT, nós sabemos. Foi reeleito com a máquina toda a pleno vapor. Enquanto isso, Temer chegou a  vice no governo de um partido que tinha um projeto ambicioso de ficar no poder por muito e muito tempo para mudar e melhorar a vida de todas as pessoas, "trazido" por  uma representante mulher ao palácio. Um partido de esquerda, portanto anticapitalista. Não era mais. Nem sei se foi.

O governo Dilma chegou com o desenvolvimentismo como bandeira. O Bolsa Família já ajudava a aumentar os índices de poder de compra do brasileiro. Interessante notar que a pequena burguesia, eu diria a classe média que se acha burguesa, estava dividida. Quem antes não tinha o que comer, agora já podia fazer uma prestação, comprar geladeira, fogão e estar classificado em uma classe C,D ou E. Começava a comprar. O capital a girar.  Ao mesmo tempo o  Luz para Todos alcança várias regiões fora das grandes cidades. Escolas de nível médio se espalham e mais vagas para a população preta e pobre nas universidades foram heranças do Lula, não temos como negar, sabendo, por exemplo, que isso poderia atingir outros objetivos que não apenas os imaginados pela cúpula do PT.  
Assim como o Minha Casa Minha Vida, os acordos já pagos pelo tempo,teriam que se ampliar e se transformariam em outros. Para construir as habitações para o programa, as empreiteiras precisavam ter alguma vantagem que fizesse o seu negócio ficar mais lucrativo, assim como as telefônicas, as mineradoras, o agronegócio. Todas tiveram "mais vantagens". Já não era ceder apenas para o monopólio político brasileiro, mas, e principalmente, para o poderio econômico. E não haveria nada que detivesse a determina Dilma, que vinha para governar com mão de ferro sem ouvir tanto o congresso quanto Lula e afundar o Brasil em incertezas e com  uma série de acordos para cumprir, entre eles, os megas eventos: A Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Todos aconteceriam no Rio, inclusive a vinda do Papa num 2013 borbulhante.

Dilma foi reeleita já com restrição. O jogo ficava mais alto. 2013 tinha acontecido e ela não soube lidar. Ninguém soube lidar. Sem liderança definida, o movimento cresceu pelos celulares dos estudantes por todo o Brasil. Era a luta dos estudantes de São Paulo contra o aumento de 0,20 nas passagens de ônibus, serviço essencial nas grandes cidades, comprovando que o chão de fábrica deixara de existir e os serviços moviam mais trabalhadores do que as grandes indústrias. Os estudantes e jovens de uma maneira geral, eram os mesmos que haviam crescido com os "benefícios" do governo PT. Esse estopim acendeu o Brasil inteiro durante todo aquele junho e seguiu até a copa de 2014.

Embora com a justificativa de de investir 75% do valor arrecadado em educação e o restante na saúde, Dilma realizou o primeiro leilão de um campo do pré-sal , o Libras, e  abriu a petroleira para o capital de estatal Chinesa e transnacionais, como a Shell. No Rio, o PT e o Lula vinham para palanques do PMDB de braços e pés atados ao Cabral, com uma desfaçatez incompreensível. Já em 2010, só ganhava eleição no rio, em qualquer posição, se estivesse diretamente ligado ao Cabral. Ele fazia questão de apertar a mão. Vi isso em campanha que fiz para o PT, tanto em 2010 como em 2012. Depois desse ano, só votei em 2016 no segundo turno para tentar eleger o Freixo. Não voto. Não reelegi a Dilma. Eu e um grande número de pessoas "ficamos pra trás”. O PT gostou do jogo do poder e deixou a população à deriva. Se comprometeu em se afastar da ideia desenvolvimentista mas deu as mãos aos banqueiros, já que os empreiteiros estavam por demais satisfeitos com o que ainda viria para suas contas ( entre tantas outras empresas e instituições que se deram bem) pelos próximos anos, até enquanto durasse a tal olimpíada. Os cargos do PT no Rio de Janeiro estavam desde vice governador, até secretarias chaves.. Entre outros, tinha  a Secretaria Municipal de Habitação, o tal SMH, que era marcado na parede externas das casas que seriam removidas nas favelas, no centro da cidade, em qualquer lugar de periferia, com ou sem pessoas dentro, por que a Copa e as Olimpíadas iriam passar. A secretaria era braço direito da gestão Cabral. Cabral e sua turma, no estado e no município, não saiam do governo, muito menos o acordo entre PT e PMDB. 
A população de rua no Rio subiu de 6.000 para 17.000 humanos, segundo dados apresentados pelo vereador Reymond na apresentação da peça "K. Relato de uma busca", na ASA, no último final de semana, espelhando a realidade entre 2016 e 2019. Boa parte dessa população vem das desapropriações que o governo executou para a construção dos estádios e "benefícios" para a cidade que seriam deixados pelos mega eventos.

Então, Brasil foi vendido, sim, e nós juntos. Com impostos altíssimos e vendo os pretos e pobres sendo mortos diariamente durante todo o período que o PT esteve no poder, como fizeram todos os outros que estiveram no poder. Sempre o poder em jogo. Avanço, não podemos negar. A retirada do completo abandono de milhares de famílias no interior do Brasil não exime do extermínio das populações das favela nos grandes centros.

O PT deixou fértil o terreno para a direita que,  sabemos sua prática e sua ideologia. No caminho tinha um cara que já estava arquitetando o plano, junto com sua pequena gangue. Esse foi um plano que vinha sendo alimentando, certamente. Ele não sabia muito bem se daria certo mas... “vai que cola?”. Colou.  O eleitor comum, aquela grande maioria que vota pra não ter que pensar em decidir e, "já que votou, deixa o cara lá, fazer o que ele acha que deve",foi  mais uma vez enganado. Levado pela má índole da gangue mequetrefe, acreditou novamente que comunista come criancinha. Já não aguentava mais ser espremido mas não estava afim de saber o que de fato acontecia. Bastava votar e todos os problemas estariam resolvidos.

Fico tentando olhar pelo ponto de vista do PT e a visão que tenho é que em 2014 ele já não precisava mais de acordos pela "governabilidade” mas preferiu manter porque estava comprometido e o projeto continuaria de qualquer maneira. Parte daquela galera que havia até reeleito a Dilma, começara a se tocar da distância entre o partido e suas bases, seu compromisso primordial com a esquerda, com vários partidos e movimentos. A outra parte, a pequeno-burguesa-classe-média se dividiu entre os que passaram a ir às ruas para defender a Dilma ou para tirá-la do poder, até mesmo quem não tinha o hábito político de se manifestar por suas causas e apenas votar  ou, no máximo, volta e meia dar as caras em grandes manifestações para seguir a maioria.

As diretorias partidárias e sindicalistas não conseguiram conter o pensamento daqueles que estavam no morro, na favela, no chão da cidade grande. Os velhos e os jovens foram os mais usados pela campanha da direita em 2018. A tática desumana e terrorista de jogos de morte ( armas), das notícias falsas se apropriando do imaginário popular, tudo aquilo que estava represado na cabeça da sociedade conservadora e violentada do Brasil, durante toda sua história. O anti-petismo surgiu do próprio PT. Lula foi preso por uma corja de juristas que se fortaleceu durante o processo de impeachment para mostrar a todos que esse Brasil " tem jeito", colocou à publico, agora pela justiça, aquilo tudo que denunciávamos nas ruas. Prendeu e aconteceu. O Brasileiro não tinha como fechar os olhos a tamanha roubalheira publicada e comercializada. Na demonização do PT a direita encontrou a ferramenta para tirá-lo do páreo. E não era por acaso, afinal era brecha em terreno absolutamente fértil e irrigado pelo próprio PT. Foi no governo Dilma que a bancada evangélica despontou em número no congresso. Foi a então candidata Dilma a se colocar contra o aborto, de mãos dadas ao deputado Eduardo Cunha que, com esse compromisso e sua bancada evangélica a ajudou a eleger-la, em 2010. O PT ficava cada vez mais distante daquelas que eram as pautas fundamentais para grande parte da esquerda. Passamos pelas jornadas de 2013 , pelo impedimento da Dilma, por 2 anos de ascensão da política neoliberal para o trabalho se implantando pelas mãos do Temer. A recessão tomando conta.

Foi assim que Bolsonaro foi eleito. Em 2013 o PT deu as costas para os milhares na rua. Além das várias manifestações espalhadas por todos os estados do Brasil, acontecendo quase que diariamente em todo junho de 2013, no dia 21 de junho, centenas de milhares de pessoas foram às ruas no Brasil, sem partido e por 0,20 centavos. Nos 0,20 centavos couberam também, a saúde, a educação, o fora Cabral e sua gangue de assassinos e ladrões contumazes, a Copa e as Olimpíadas do PT, Cabral e Paes. O PT deu as costas, ficou atônito com as mesmas demandas, absolutamente condizentes com o porquê daquele partido ter sido eleito. Dilma chegou a fazer um pronunciamento em cadeia nacional prometendo rever a questão econômica e principalmente fazer a reforma política. Mas era período pré eleitoral. Foi calada dias depois pelo Temer, abrindo a fenda para o escoar da direita. O movimento MBL se  constituiu a partir das manifestações do Movimento Passe Livre ( MPL), em São Paulo, num racha entre a direita e a esquerda no mesmo movimento. No processo, surgiram o Partido Novo, Solidariedade e movimentos da nova direita brasileira ( que sempre existiu).  Eduardo Cunha comandou as negociações para derrubar Dilma e, dentro da mais mais perfeita legalidade abre o processo de impeachment com a aprovação da maioria dos congressistas, autorizado pelo amigo de última hora do partido, lá em 2010 e seus comparsas do PMDB, DEM, PR,PP e etc,  partidos que, na pratica, governaram o país durante todo esse período. O impedimento da Dilma foi conveniente para todos do grande pacto pela governabilidade. E isso estava claro para todos nas eleições de 2018. As denúncias que as Ruas fizeram em 2013 e 2014 foram todas comprovadas, mas não pelo governo, e sim por uma ação entre amigos juristas, oportunistas,  do Paraná, que resolveram defender a moral e os bons costumes brasileiros para o capital. Uma rapaziada que chegou ao poder judiciário levada por suas famílias e ligações institucionais familiares da burguesia curitibana. Um grupo que, como as ruas de 2013, não aguentou mais ser feito de idiota.

Diante do fracasso de Dilma o PT some. Ela fica sozinha e é humilhada pelo próprio partido que desde de então está muito envolvido com a vida do Lula,  sem nenhuma proposta clara, consistente  para não permitir o avanço da direita (diante da autonomia que lhe era ofertada por uma maioria de eleitores), nem para fazer honrar os princípios que outrora existiram e enfrentar, fazer autocrítica e estudar com seriedade o que de fato aconteceu durante toda a trajetória do PT e o porquê da derrota em 2018. À maioria votante, que ainda precisa eleger alguém para deixar de pensar no assunto Brasil, cultura da democracia representativa, sobrou aquele cavalo mentiroso que prometia mudar tudo e acabar com todos os comunistas que trouxeram para o Brasil essa visão Pan de tudo que se respira atualmente. Ignoraram que os comunistas não tem nada a ver com isso, já que é uma necessidade da humanidade ver as questões da sobrevivência no planeta por outro prisma, não mais da resistência pelo chão de fábrica, como na década de 1980, mas pela mobilidade para estar onde precisa trabalhar, estudar, morar. "Votar em alguém que vai mudar tudo", mesma atitude dos brasileiros daquela outra época. Porém agora, era votar independente do partido, da ideologia, já que todas as notícias que eles tinham eram as de um governo de mais de uma década e meia que era absolutamente corrupto, que vendia o Estado e tinha colocado o comunismo no poder(!) como a outra possibilidade.

Os eleitores de Bolsonaro, foram portanto, a orda que estava cansada demais para pensar que a facada poderia ser marketing, ou como aquelas mensagens chegavam aos seus celulares desde 2016. Sem questionar o que estava acontecendo, sabia que estava esmagada pela política do PT, nas favelas e nas centros, nas cidades e no campo, mesmo que no nordeste ainda se mantivesse firme o apoiou, única região que de fato o PT teve desempenho positivo.


Eu não apoio nenhuma legenda, nenhum partido ha já algum tempo. Tenho muita irritação com o PT, como da pra perceber. Tenho uma certa preguiça do Psol mas apoio quadros que acho que fazem a diferença, especialmente o das mulheres, brancas e pretas do partido. Marielle deixou um legado de mulheres empoderadas no Rio, mulheres que enfrentam a violência do estado desde antes de serem concebidas.Marina criou uma Rede que ainda não disse ao que veio e tem mais uma porção de nanicos que ainda estão com as cartilhas trotskistas, maoista e leninistas nas mãos, se nomeando partidos de esquerda, entre eles o stalinista PC do B. Não conseguiram avançar além do que as cartilhas  teimam em repetir sem olhar que o mundo mudou. Nenhum deles. Os menores se imbricam nos maiores porque não têm fôlego em suas propostas para "convencer" mais ninguém.

Não votei tb nas últimas eleições. Por sorte, estava em São Paulo nos dois turnos e fui justificar o "não voto" para evitar pagar a taxa que pago a cada turno eleitoral porque na nossa democracia representativa somos obrigados a votar ou pagar pela ausência. Uso meu direito democrático de não eleger partido que não confio. Não sou alienada, não sou de direita, muito menos não defendo o meu país. Estou nas ruas e cobro diariamente do eleito sua responsabilidade com a nossa constituição e não medirei esforços para ver o país ter um caminho humanizado, refletindo os anseios de toda população mas principalmente da juventude e do que deixaremos para eles quando já não estivermos mais aqui, sem tirar as responsabilidades que eles também têm com cada um dos seus atos para o Brasil daqui a pouco.

Se deixarmos de ver a esquerda como uma massa difusa, liderada e amalgamada pelo PT, talvez conseguiremos entender os grupos que surgiram a partir daí, como na ditadura, ou que já estavam aí, após a redemocratização. Os anarquistas tomaram mais espaço, principalmente a partir das universidades e das comunidades das favelas. O PCO concorre às eleições mas não emplaca e se nomeia de extrema esquerda. Não sei no que a causa operária se tornou, mas pelo que leio, não mudou muito. Temos a  Universidade Nômade, uma tendência que propõem  a teoria da multidão defendida por Antônio Negri a partir do operaísmo de Tronti, resumindo bem mal o trabalho deles,  Mas, e principalmente, tem uma galera que não se liga a nenhuma ideia revolucionária mas quer uma vida melhor, nem sabe se é para a direita ou para a esquerda, ou para o centro mas começa a entender que o regime democrático de representação está em crise. Esse sim é um ponto a se refletir, ainda a meu ver. Tenho a sensação, como tive nas jornadas de junho se 2013 que quanto mais horizontal é a representação, mais legítima. Quando várias vozes decidem o pequeno, a política é mais ampla. Esses dias li a Tatiana Roque defendendo o retorno da política inicial do PT, quando nada era decidido se não fosse consenso desde os pequenos núcleos de base. Ela sugere uma política participativa para acabar com a corrupção e aumentar as condições humanitárias nas cidades, ouvindo o que cada região tem de singular e se representar. Nada de novo. Nós fizemos isso. Penso que o Rio de Janeiro reflete a desigualdade de forma clara e nós estamos tão habituados aos desmandos e aberrações que achamos tudo normal. As universidades estão sofrendo corte ao menos desde 2012, a população preta e pobre nunca deixou de ser fuzilada, mas agora é oficial: governador do Rio pega a arma e sai rumo a matança e, o presidente da Alerj é do PT. A prática piorou muito mas a governança é a mesma. Ainda precisamos amadurecer e encarar a derrota da esquerda e mudar o rumo, mais uma vez.
Obrigada pela oportunidade, galera. Foi um exercício e tanto escrever sobre esse assunto. Vou até colocar no blog, de tão esmiuçadinho que ficou. Fico aguardando as pauladas hehehe
Hoje já é dia 27/05/19. Última revisão até gora!
Boa noite, queridos.  




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