Há dois anos

Amiga querida, aqui estão minhas considerações sobre a matéria "50 razões para votar 13 nas eleições de 2014". Esta matéria só fortalece minha decisão. Aproveito que me mandou para, publicamente, esclarecer o meu "não voto". Não sou desenvolvimentista e nem aceito “desenvolvimento” visto pela ótica das corporações,dos grandes eventos, empreendimentos faraônicos que segregam e enchem os bolsos das empresas comprometidas com o lucro e a corrupção, que desapropria os pobres, que desmata, invade terras indígenas com torres e obras faraônicas de aniquilação dos recursos naturais em nome do "desenvolvimento. No Desenvolvimento que acredito os primeiros pontos do “ranking” serão saúde, educação, segurança e especialmente, a cultura. Fica muito fácil perceber diante dos "50 motivos para votar em Dilma", em que lugar ela coloca estas questões que são prioridade para mim. Lá, depois do vigésimo, entra o ProUni que , quase posso afirmar, não fosse o governo Lula implementar o programa, não estaria neste ranking antes das compras de passagem aéreas (pasmei ao ver o PT colocar este motivo antes dos sociais) , como todos os outros itens relacionados à educação e à saúde, que ficaram a baixo na listagem. Segurança só é citada em relação à PF. Cultura, não existe.
Não voto em um candidato, ou partido, que antes de tudo já se comprometeu com empreiteiras, bancos, oligarquias (todos estão comprometidos) e ainda por cima, e descaradamente, com a direita e por princípios não abra mão da parceria com esta. O PT já construiu a possibilidade de abrir mão destes acordos, mas não quer por que não é mais prioridade e nem um partido de esquerda, muito menos comprometido com a população que tem outras necessidades, após a barriga cheia, Não significa desconsiderar as vitórias e avanços no governo petista mas não me representa o governo que oferece Bolsa Família e coloca os jovens na escola, porém, depois que estes com a devida consciência da barriga cheia e dos livros na cabeça, percebem seus direitos e vão reclamá-los na rua, aos milhões, são tratados como traidores e merecedores de bombas, agressões, prisões e leis de exceção.
Portanto não votarei nem em nenhum candidato, mesmo sabendo da seriedade de vários deles, que acompanho de perto, como me perguntam eleitores que, acredito, não percebem que não se vota em candidato mas no partido, na legenda, na coligações. Não existe candidato desvinculado de partido e dos interesses destes.
Não votarei porque não concordo com o sistema político e eleitoral que temos no Brasil, este circo montado apenas para acobertar a corrupção, onde já sabemos que, independente de quem vai ganhar, as regras de governança já foram impostas pelo capital e continuarão no poder as empreiteiras, os milionários do agronegócio, os banqueiros, as agências de publicidade, os donos das empresas de ônibus, as empresas de comunicação, os assassinos de negros e pobres, os que destroem as florestas, os que tratam os índios como sub categoria da humanidade e "que inevitavelmente serão extintos" pela arrogância humana, os que vêem os indivíduo como mercadoria, moeda de troca. Não votarei porque repugno este processo eleitoral e fico aborrecida, mesmo, ao ver amigos politicamente conscientes fazendo campanha por este ou aquele candidato, tentando se iludir e querendo iludir à sua volta com a máxima de que o voto é uma arma de mudança. Mudança? Pra quem? Voto não é arma, Voto é voto.
Como disse em outros posts, nunca esquecerei a humilhação que passei ( passamos) em julho de 2013 quando, milhões, fomos atacados pela polícia do Estado, cercados por bombas e tiros, no Rio de Janeiro, ao chegarmos no trecho da Presidente Vargas ( milhões de pessoas, relembro) onde não podíamos correr para nenhum lado, levando os jovens a reagir diante dos tanques de guerra que se aproximavam para nos atacar. Só quem estava lá viu. A maioria dos que estão fazendo campanha, principalmente para o partido que continuará governando o país, viu pela televisão e nos chamou, a todos, de vândalos, pior, com o tempo foi segregando a tupiniquim iniciativa de reação, acabou discriminando, incentivando a violência e inserindo o movimento na categoria de "vândalos black bloc", como a grande imprensa orquestrou, para criminalizar o movimento que não tinha partido, organização, instituição ou "direção" e esvaziar as ruas. Lembro que naquele dia não havia uma só bandeira contra a presidenta Dilma, mas ela não entendeu. Se comprometeu com uma reforma política em cadeia nacional e comprovou que é apenas uma voz representante das oligarquias e dos acordos políticos espúrios de longas, longas datas e voltou a trás na primeira hora, logo após o PMDB, que governa este país há décadas, a ponto de não precisar de candidato oficial para concorrer as eleições, dizer: cala boca Dilma. E ela calou desrespeitando a todos nós.
Fundei o PT e hoje o que temos no governo é um partido autoritário, de centro direita que preserva o desenvolvimentismo como se o Brasil precisasse apenas de obras e assistencialismo, que incentivam as políticas mesquinhas de apadrinhamento, que acha que jovem tem que ficar calado ou ser grato ao que "recebeu", que incentiva o militarismo das polícias, o genocídio nas favelas, os grandes eventos em detrimento da população( removida), que desconsidera a cultura e os serviços, os espaços urbanos das grandes cidades. O interesse pela cultura é um bom exemplo: aniquilou o trabalho feito pela gestão anterior ( os Pontos de Cultura), não percebeu que foi este mesmo trabalho que incluiu milhares de jovens e os levou à rua através de seus celulares a brigar por seus anseios. Ainda assim, depois da grita "estudantil", coloca uma socialite na pasta. Pior, trata cultura como souvenir. Aliás, está comprovado o que a Copa foi para eles e tivemos que esperar até les se fartarem com os bolsos cheios para que o Brasil voltasse a produzir, no sistema capitalista, e voltássemos a ter algum recurso para poder pagar nossos compromissos.Moro numa das cidades mais caras do mundo,onde é quase impossível viver sem estresse, alimentada especialmente pela especulação que se estenderá até 2016. Não voto em partido ( de eXquerda) que tem como exemplo de intelectual uma senhora que desclassifica a classe média, a única que paga impostos e trabalha 3 meses por ano de graça, apenas para pagar impostos que nunca retornam a seu favor e que também apoia as ações da polícia militarizada contra a população, publicamente.
Assisti ao vídeo onde Gil apresentou à Marina a música que fez para a candidatura dela. Emocione-me. Fosse eu uma desinformada, votaria na emoção. Não voto no socialismo do Psol porque não acredito no que ele propõe e percebo a mesma arrogância que encontro no PT, disfarçada de proposta "avançada de esquerda", apesar dos brilhantes candidatos que lá estão ancorados e certamente serão eleitos no Rio. O Aécio e o PSDB estão à minha direita, certamente, com seus princípios fincados apenas no capital, na venda dos espaços públicos, no tratamento do cidadão como provedor de lucro e que se não for, está fora do sistema, não serve.
Amiga querida, como lhe disse, responderia com calma. Acabei me empolgando. Não sou mercadoria. Sou comunista. Continuarei sendo. Não voto útil.Já votei. Utopicamente acredito que no nosso insignificante planeta um dia tenhamos a oportunidade de, ao menos em uma nação, vivenciar o comunismo na sua essência, priorizando o comum, a sociedade, a vida a existência e não o regime, o partido, é bom lembrar, jamais exercido no planeta, e que, quem dera este país seja o nosso, o Brasil. Independente de quem ganhar estas eleições, continuarei do mesmo lado que estou: nas ruas. Pela primeira vez em minha vida política não irei às urnas. Não sou uma ignorante que não consegue apertar um botão e anula o voto. Não voto em branco. Abstenho-me do processo eleitoral, e pagarei a taxa imposta, com convicção política de quem quer ser mais um nas estatísticas de que não participa desta farsa. Um beijo. Bom voto.

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